Os filmes de Peter Greenaway

Peter Greenaway (Newport, País de Gales, 1942) é um cineasta britânico. Seus filmes são notáveis pela presença de elementos de arte renascentista e barroca (flamenga em particular) e o uso de luz natural, compondo cada cena de seus filmes como se fossem pinturas.

Quando criança, desejava tornar-se pintor. O interesse pela pintura foi muito importante para definir toda sua obra artística. Cada filme de Greenaway é composto visualmente usando-se parâmetros estéticos da pintura. Também são características de seus filmes o destaque para a composição e iluminação cênica, bem como os contrastes de figurinos e nudez, natureza e arquitetura, mobiliário e pessoas, prazer sexual e morte dolorosa.

Peter Greenaway

Seus filmes que mais admiro são (por ordem cronológica):

Um Z e dois zeros (1985)
A Zed & Two Noughts

Empregados de um zoológico, os irmãos gêmeos Oswald e Oliver passam a se dedicar obsessivamente aos estudos sobre a evolução das espécies utilizando animais mortos após perderem suas esposas em um acidente de carro. Para saber como foram os últimos momentos de suas esposas, os dois vão visitar Alba, única sobrevivente do acidente e que acabou perdendo uma perna. A visita dá início a um intrigante triângulo amoroso. Trabalhando novamente com o diretor de fotografia de Sacha Vierny e com o compositor Michael Nyman, Greenaway apresenta aqui, com todo o apuro estético, a exuberância visual e a obsessão temática com o sexo, a morte e a escatologia que são as marcas de sua obra, uma reflexão sobre a mortalidade, a decadência e a putrefação dos corpos. 

A Barriga do Arquiteto (1987)
The Belly of an Architect

Um arquiteto norte-americano chega à Itália para supervisionar uma exposição de Boullé, arquiteto francês que ele idolatra, famoso por suas construções ovais. Quando fica sabendo que seu ídolo ingere alimentos muito parecidos com os seus próprios, fica desconfiado que sua jovem esposa o está envenenando. As barrigas começam a se tornar uma fixação para ele, e começa a ficar doente e cada vez mais paranoico. Durante o período de nove meses, ele se torna obcecado por sua própria barriga. Uma pérola dentro do gênero avant-garde.

Afogando em Números (1988)
Drowning by Numbers

 

Três mulheres com o mesmo nome, Cissie, cometem três assassinatos, cada uma afogando o próprio parceiro por pura insatisfação. A garantia para os crimes não virem à tona é dada por um amigo apaixonado por elas: ele declara que os afogamentos foram acidentes. Esse amigo e seu filho são obcecados por jogos de todos os tipos, que são jogados durante o filme. Usando essa trama como pano de fundo, Greenaway propõe ele mesmo um jogo ao espectador: encontrar os numerais de 1 a 100, que vão surgindo em ordem crescente na tela, “escondidos” em cenas, cenários e diálogos. Com isso, o espectador é levado a observar cada sequência do filme como se observa um quadro, em busca de detalhes. O filme conta com direção de fotografia de Sacha Vienny e trilha sonora de Michael Nyman, dois colaboradores frequentes do cineasta britânico.

O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante (1989)

The Cook, the Thief, His Wife & Her Lover

O gângster Albert Spica janta todas as noites no restaurante Le Hollandais em companhia de seus capangas e da esposa, Georgina. Cansada dos modos violentos e grosseiros do marido, Georgina flerta com um solitário freqüentador do restaurante, o bibliotecário Michael. Com a cumplicidade do chefe de cozinha francês, Richard, os dois amantes fazem sexo às escondidas no banheiro e na despensa do restaurante, enquanto Albert devora prato após prato em sua mesa. Quando Albert descobre a traição da esposa, desfecha uma cruel vingança contra Michael, que por sua vez será vingado por Georgina. 

Recheado de violência, escatologia e canibalismo, este filme do inglês Peter Greenaway é um banquete para os olhos. Com a cumplicidade do fotógrafo Sacha Vierny e do estilista Jean-Paul Gaultier, Greenaway realizou uma das mais requintadas obras-primas do cinema contemporâneo.

A Última Tempestade (1991)

Prospero's Books

Adaptação livre da peça de teatro A Tempestade, última obra escrita por William Shakespeare. Na trama, o mago Próspero vive exilado em uma ilha com sua filha, Miranda, após ter sido banido pelo rei de Nápoles. Mas o destino faz com que seus inimigos venham a sua ilha, dando início a um romance proibido e a uma série de conspirações e vinganças. Com uma narrativa experimental, em que os diálogos são substituídos por narração, e um visual deslumbrante, fruto de um impressionante trabalho de fotografia, direção de arte e figurino, Greenaway mistura aqui teatro e pintura para realizar uma instigante obra cinematográfica sobre traição.

O Bebê Santo de Macon (1993)
The Baby of Mâcon

O nascimento de um bebê, filho de uma suposta virgem, causa um surto de histeria coletiva em uma cidade imaginária chamada Cosimo de Medici, no século XVII. A população faz com que a criança acabe se tornando uma espécie de divindade na região. Aproveitando-se da credulidade dos seus conterrâneos, a irmã do “bebê-santo” esforça-se para que todos acreditem que o nascimento da criança se trata realmente de um milagre, de modo a tornar-se poderosa e influente. Utilizando uma narrativa que lembra uma encenação teatral e explorando o tom obscuro e sombrio da fotografia do mestre Sacha Vierny, Peter Greenaway dá aqui sua visão da religiosidade exacerbada.

O Livro de Cabeceira (1996)

The Pillow Book

Em Kyoto, no Japão dos anos 1970, uma jovem comemora seu aniversário com um estranho ritual: seu pai escreve em seu rosto uma benção enquanto sua tia lê “um livro de cabeceira”, um diário escrito por uma gueixa há quase mil anos. Ela cresce entre livros, papéis e estudos de caligrafia japonesa, praticada em corpos nus. Obrigada a aceitar um casamento arranjado, ela descobre segredos íntimos de seu pai enquanto o desejo pela escrita em seu corpo cresce a cada dia se transformando em uma verdadeira obsessão. Até que ela conhece um jovem tradutor inglês bissexual, que irá mudar seu destino e transformar seus desejos mais secretos em realidade. Filme baseado nas "Notas de Cabeceira" da escritora medieval japonesa Sei Shōnagon.
 

A Ronda da Noite (2007)
Nightwatching

Extravagante e exótica crônica da vida profissional e amorosa do famoso pintor holandês Rembrandt, nascido em 1606. O filme foca especialmente o período em que o artista produziu Ronda da Noite (1642), sua mais famosa obra, uma proeza técnica no uso de luz e sombras, que Greenaway reproduz com impressionante fidelidade. Segundo o filme, o célebre quadro esconde um segredo ligado a um misterioso assassinato não solucionado.