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Belchior e Fagner na voz de Elis

Elis Regina interpretou alguma canções dos nossos cearenses Belchior e Raimundo Fagner. Como não poderia ser diferente, as interpretações são espetaculares e com uma carga emotiva altamente densa.

De Fagner, gravou "Mucuripe". No caso de Belchior, suas canções "Como nossos pais" e "Velha roupa colorida", também são igualmente bem cantadas por ele próprio em seu LP "Fascinação" de 1976. Esta última inclusive com arranjo bem diferente, mais lento (confiram abaixo). As duas obras foram incluídas por Elis no antológico show "Falso Brilhante" de 1976. Todas imortalizadas!

Como nossos pais


Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...

Velha roupa colorida


"Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer

Nunca mais teu pai falou: "She's leaving home"
E meteu o pé na estrada "like a Rolling Stone"
Nunca mais você buscou sua menina
Para correr no seu carro, loucura, chiclete e som
Nunca mais você saiu à rua em grupo reunido
O dedo em V, cabelo ao vento
Amor e flor, quede o cartaz?

No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais

Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer

Como Poe, poeta louco americano,
Eu pergunto ao passarinho: "Blackbird, o que se faz?"
"Raven never raven never raven"
Blackbird me responde
Tudo já ficou pra trás
"Raven never raven never raven"
Assum-preto me responde
O passado nunca mais

Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer

E precisamos rejuvenescer"

Escutem agora a versão original do autor, mais linda eu acho:


Mucuripe


Pra finalizar, uma da dupla e cantada pela Pimentinha, em um programa de televisão da época. Super interessante! Não conhecia.

Noves fora (Fagner-Belchior)


Meu Deus, o que é que faço
Tua beleza ta me carregando pelo braço

Da laranja eu quero um gomo
Do limão quero um pedaço
E da menina mais bonita
Eu quero o beijo e o abraço
É tudo ou nada
Noves fora, nada

Já rezei até pro meu santo
Na terra do Canindé
Que me dê um homem grande
Que pequeno não dá pé
É tudo ou nada
Noves fora, nada

A tua falta somada
A minha vida tão diminuída
Com esta dor multiplicada
Pelo fator despedida

Deixou minh'alma muito dividida
Em frações tão desiguais
E desde a hora em que você foi embora
Eu sou um zero e nada mais

Um, dois, três, ene, infinito
do meu lado esquerdo você quer é demais
Ah, meu Deus, o que que faço

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